MARCELO CÂMARA: UM JOVEM DO EMAÚS A CAMINHO DOS ALTARES


Marcelo Câmara foi um jovem que participou do 50º Curso de Emaús – o Emaús é um Movimento nacional que trabalha com a evangelização da juventude – na Arquidiocese de Florianópolis, de 28 a 31 de agosto de 1997. Na época, ele tinha apenas 18 anos. Logo após o Curso, Marcelo se converteu a Cristo e começou a trilhar, cotidianamente, o caminho da fé. Um certo dia, ao se referir à sua participação no Curso de Emaús, Marcelo afirmou: “Posso afirmar que sentei na sala de palestras como um jovem avesso às Missas, e levantei-me um adulto pela felicíssima maturidade que as palavras ouvidas, tão evidentemente verdadeiras, trouxeram ao meu ser, à minha pessoa”. (No caminho da santidade, página 34).

Entre quedas e avanços, sombras e luzes, no itinerário da santidade, Marcelinho, como ele era chamado pelos amigos de Floripa, passou a se comprometer, cada vez mais, com o advento do Reino de Deus, realizando um fecundo apostolado com os jovens. No dia a dia, Marcelo era um jovem entusiasmado por Deus, pela Virgem Maria, por São José e pela Igreja.

Eu conheci o Marcelo, pessoalmente, no VI Seminário Nacional de Emaús que foi realizado em Jundiaí, São Paulo, de 21 a 23 de julho de 2000. Creio que aqueles três dias foram os únicos em que estivemos próximos, fisicamente, em nossas vidas. Antes daquele Seminário, os nossos encontros eram virtuais, pois participávamos do mesmo Movimento, mesmo que em diferentes Arquidioceses. Juntos, o Marcelo, eu, alguns jovens do Movimento de Emaús em São Paulo (André Dameda e o Morais) e outros jovens de Brasília (Roberto Jardim e Guto) havíamos criado uma lista de discussão do Emaús no Yahoo. Por meio dessa lista de discussão, nós buscávamos responder às dúvidas de fé que eram apresentadas por outros jovens do Movimento de Emaús. Foram discussões muito ricas e fecundas; pena que o Yahoo apagou todo o conteúdo.

É claro que todos nós, jovens tenros na fé, não tínhamos respostas para tudo, mas não nos faltavam boa vontade e esforço para ensinarmos a doutrina da Igreja, em sintonia com o Magistério, em todos os assuntos. Eu me recordo que os temas sobre a Eucaristia e a Inquisição eram a especialidade do Marcelo; o Roberto gostava de responder sobre a fé e eu respondia às questões referentes à Igreja, principalmente, a História da Igreja. A cada nova pergunta ou discussão, mediante aquela lista, nós percebíamos que algo era comum em todos nós; o desejo intenso de comunicar o amor de Deus, e, por isso, o esforço diário em ser comunidade, e caminhar unidos no Rumo Certo era uma realidade constante. Procurávamos não apenas conhecer mais e melhor os ensinamentos de Cristo, o Evangelho e os Documentos do Papa e da Igreja. Procurávamos conhecer para apresentar “as razões da nossa fé” e assim, de algum modo, arrastar outros jovens para a senda da Igreja.

Por meio daquela lista de discussão do Emaús, nós procurávamos atender ao pedido do Papa João Paulo II, que nos solicitava uma “Nova Evangelização, promoção humana e cultura cristã”, enfatizando que “Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e sempre!”. (Hb 13,8). A iniciativa de se criar uma lista de discussão surgiu por volta do ano de 1997, como resposta ao desafio que o Santo Padre nos fazia de preparamos o Novo Milênio que se aproximava, evangelizando com novos métodos e novas expressões. Em sintonia com João Paulo II, nós abraçamos esse esforço evangelizador, com a convicção de que a verdade fundamental sobre Cristo e o homem deve penetrar profundamente em todos os corações.

Naqueles três dias em Jundiaí, durante a realização do VI Seminário Nacional do Emaús, nós percebemos que o amor por Jesus Eucarístico, pela Virgem Maria e pela Igreja eram fortes e determinantes em nossa caminhada cristã. Para nós, o esforço de santidade não era opcional; era, sim, uma máxima oportunidade de correspondência ao amor de Jesus Cristo. Marcelo já era ali, naqueles dias, um jovem santo, um cristão com o coração repleto de paz e serenidade, porque sabia depositar a sua alegria no Senhor.

Hoje, fazendo memória do Marcelo Câmara, eu percebo que os santos não nasceram perfeitos. Eles também tiveram falhas, defeitos e pecados, mas venceram as dificuldades e as tentações enraizados no amor de Cristo. Marcelo era uma simpatia de pessoa, acolhedor, de fala mansa e serena, mas forte e determinante em suas palavras. Como um irmão de verdade, ele andava conosco, lutava conosco, transmitia incessantemente a proximidade do amor de Cristo. Ele não escondia os seus talentos e nos levava a refletir nos ensinamentos de Santa Catarina de Sena que nos ensina: “Se vocês fizerem o que deve ser feito vocês acenderão o mundo! ”.

No esforço contínuo para acender o amor de Deus em meio ao mundo, Marcelinho também abraçou a catequese de jovens e adultos e o serviço de ministro extraordinário da Sagrada Comunhão Eucarística, na Paróquia Sagrado Coração de Jesus, no bairro dos ingleses, no norte da Ilha de Florianópolis. Posteriormente, ele participou do Opus Dei e passou a perceber que o trabalho é uma via de santidade. Esse jovem leigo foi estudante de Direito e, logo depois, professor e promotor de justiça.

Marcelinho gostava de participar das comemorações dos aniversários dos amigos e tinha grande apreço pelas atividades do Movimento de Emaús, em especial, os cursos, a Escola Missionária, as reuniões de grupo da comunidade e as Maranathas que são os encontros festivos do Movimento. O Monsenhor Francisco de Sales Bianchini, na época o sacerdote que acompanhava o Movimento em Floripa, era o seu orientador espiritual, amigo, confidente, padrinho de Crisma e, acima de tudo, um sólido exemplo de dedicação ao Reino de Deus. Graças ao contato, à amizade e ao incentivo do Monsenhor Bianchini, o Marcelinho sempre avançou para águas mais profundas.

Vislumbrando a História da Salvação, nós percebemos que Deus quer contar com a participação dos santos na conversão dos pecados. Deus sempre solicita aos santos a santificação das dificuldades e das dores para resgatar os batizados que estão afastados da Sua Igreja, pois Ele sabe que os santos estão capacitados, ou se capacitam, para suportar sofrimentos e adversidades sem odiar ou resmungar, respondendo o mal com o bem, espalhando a alegria do Evangelho.

Marcelo foi um desses escolhidos por Deus para santificar as dores e, por isso, em setembro de 2004, foi-lhe diagnosticado um tipo de câncer, uma leucemia. Marcelo abraçou a sua cruz e realizou a quimioterapia e a radioterapia prescritas pelos médicos. Durante quatro anos, ele não desistiu de lutar pela vida, ele santificou suas dores e, mesmo em meio à doença, estudou com determinação para se tornar um promotor de justiça, cargo que exerceu por um ano com ética, profissionalismo, competência e dedicação cristã.

No dia 20 de março de 2008, uma Quinta-Feira Santa, dia em que celebramos a instituição da Eucaristia e do Mandamento do Amor, Marcelo Câmara faleceu com apenas 28 anos de idade. Neste curto período de vida, Marcelinho foi um amado discípulo de Cristo, um jovem evangelizador de Emaús, um ousado discípulo missionário de Jesus que, com amor e fortaleza, passou pelo mundo fazendo o Bem. Creio que o falecimento do Marcelinho, em uma Quinta-Feira Santa, dia eucarístico por excelência, é a feliz comprovação de que ele sempre foi um amante da Eucaristia, uma pessoa que não sabia viver sem a comunhão eucarística, um jovem que havia percebido que no Altar do Senhor o Céu se une a terra.

No Domingo, dia 8 de março de 2020, a Arquidiocese de Florianópolis abriu oficialmente o processo de beatificação do jovem Marcelo Câmara, o primeiro candidato do Movimento de Emaús que poderá ser declarado santo e assim ser inserido no rol dos santos da nossa Igreja.

Hoje, fazendo memória do Marcelo Câmara, em especial, daqueles três dias do VI Seminário Nacional de Emaús, eu percebo que o Marcelo sempre foi um testemunho vivo de que os santos estão escondidos em nosso meio, eles passam despercebidos porque são simples e humildes, mas marcam a nossa história e contribuem, com generosidade, para a beleza da Igreja que é sempre santa.

Marcelo Câmara, nós estamos esperando ansiosos o dia da sua beatificação e cremos que você já está ouvindo as nossas preces, conquistando, para nós, favores e milagres da parte de Deus. Marcelo Câmara, pela comunhão dos santos, nós continuamos unidos na caridade e na certeza de que os santos são pessoas boas que Deus coloca em nossos caminhos para nos demonstrar que nascemos para o Céu, para a eternidade, para o paraíso, para a vida eterna que jamais terá fim.

Fonte: Arquidiocese de Brasília – Texto de Aloísio Parreiras