Artigo

Editorial de Abril

“Retiro o excesso que ofusca a semelhança…” (Pe. Fábio de Melo)

Tenho em minha parede um crucifixo, de resina, na crueza da pedra, e nele posso contemplar o sacrifício do homem-Deus; aos seus pés, o que me revela ser Maria, sua mãe, segurando um cálice, colhendo o sangue que seu lado aberto verte. Torna-se impossível não mergulhar na poesia desse gesto, e ali me demorar.

Entendo, assim, o que é Páscoa: é a festa da essencialidade, do substancial. A Senhora das Dores e Alegrias não permite que nenhuma gota de vida se perca, que não seja desperdiçada, Daquele que tudo foi entrega generosa e justa medida. Arrebata-me aos filhos escravizados por faraó: “comam, e que nada sobre”. (Ex 12, 10) E é isso, querido amigo, o que celebramos neste Abril que começa: o necessário, o suficiente, o que não excede.

Se nossa história ainda sofre overdoses, é porque a Páscoa ainda não se fez nosso verdadeiro sentido; se ainda precisamos sentar em cima do tampo para que o baú seja fechado, pode ser que ainda insistimos no que, a qualquer momento, será desperdício. Vivemos nós num tempo de muitos excessos, tudo ao extremo, conduzindo à exaustão. E se esconder na Ressurreição é também ir ao extremo: o extremo da intensidade do Amor.

Eu quero não perder nenhum fragmento de Eternidade, e raspar-me a demasia que encrosta a alma… e você: o que está sendo colhido no cálice do seu coração? O que você não quer que lhe escape de forma alguma? E o que está te dificultando cadear o baú do ontem, para o hoje exalar plenitude?

Santa Páscoa, nova vida!

A redação