Artigo

Semana Santa: UMA SEMANA DIFERENTE DAS OUTRAS

 

De 5 a 12 de abril: Semana Santa

Para esse tempo que se descortina,
nossa redação transcreve as reflexões preparadas pela equipe da Grande Sinal (Março/Abril 2007) –
revista de espiritualidade franciscana.
Elas nos acompanharão no percurso que conduz no Sepulcro Vazio.

 

Elementos de Espiritualidade da Semana Santa

            Os dias da Semana Santa são os mais importantes para a vida da Igreja (e a vida do mundo!). Os cristãos se detêm diante dos últimos e decisivos acontecimentos da trajetória terrena de Jesus. Há momentos de exultação e de júbilo. Há outros em que o coração dos fieis sente aperto dentro do peito. Não são apenas três dias, mas uma semana inteira, de Ramos até o Domingo de Páscoa, até o oitavo dia. É a Grande Semana, a Semana Maior.

            São Basílio Magno exprime, de maneira admirável, o sentido da Semana em que Cristo se entregou ao Pai e aos seus:

            “O desígnio de nosso Deus e Salvador em relação ao homem consiste em levantá-lo de sua queda e fazê-lo voltar do estado de inimizade ocasionado por sua desobediência, à intimidade divina. A vinda de Cristo na carne, os exemplos de sua vida apresentados pelo Evangelho, a paixão, a cruz, o sepultamento e a ressurreição não tiveram outro fim, senão salvar o homem, para que, imitando a Cristo, ele recuperasse a primitiva adoção filial” (Liturgia das Horas II, p. 384).

            Durante toda a Grande Semana estaremos diante daquele que se fez obediência ao Pai, aquele que orienta seu escutar na direção do Pai para realizar alegremente seu desígnio de amor: “Ele, sendo de condição divina, não fez do ser igual a Deus uma usurpação, mas esvaziou-se a si mesmo…fazendo-se obediente até à morte e morte de cruz” (cf. Fl 2, 2-8). Nestes dias estaremos bem perto daquele que foi o obediente amoroso.

            A festa da Páscoa, coroamento da Semana Santa, não é uma mera recordação psicológica dos últimos dias de Jesus, mas a celebração sacramental e comunitária cristã que torna presente o mistério batismal e eucarístico do cristianismo na assembleia do povo que crê através do véu dos símbolos. Comemora o trânsito de Jesus da morte para a vida, mediante o qual recordamos o passado, confessamos a presença de Deus no presente e antecipamos um futuro de glória e de ressurreição. A Páscoa celebra-se solenemente no domingo, primeiro dia da semana, o dia em que Deus criou a luz. Páscoa é o primeiro dia de uma criação nova. Páscoa torna presente o Mistério Pascal.

            Devido à tradição apostólica que tem sua origem do mesmo dia da Ressurreição de Cristo, a Igreja celebra cada oitavo dia o Mistério Pascal, lembra o Vaticano II (SC 106). Esse dia é o domingo, dia do Senhor. Nele os cristãos devem se reunir para, ouvindo a Palavra de Deus e participando da Eucaristia, lembrar-se da Paixão, Ressurreição e Glória do Senhor Jesus e dar graças a Deus. Provavelmente se fixou no século II um domingo anual que deu lugar ao aparecimento da festa da Páscoa cristã relacionada com a páscoa judaica. O concílio de Nicéia, em 325, fixou a Páscoa anual no domingo seguinte à primeira lua cheia do equinócio da primavera (no hemisfério norte).

            A celebração da Semana Santa culmina “com a eucaristia da madrugada de domingo, a que precedida o batismo dos catecúmenos, tanto jovens como adultos. O centro é Cristo com sua paixão, que abarca toda a existência humana, uma vez que ele está presente em todas as vítimas da dor e do sofrimento, simbolizados pelo cordeiro pascal. A páscoa não é um mero rito, liturgia ou celebração. Toda vida é páscoa, passagem, trânsito” (Cassiano Floristán, Vida Nueva 2. 178, março de 1999, p. 24).

            “O memorial pascal é memória subversiva, uma vez que Cristo subverte os falsos valores da sociedade – sobretudo os que idolatravam o poder, as armas, o dinheiro – estabelecendo uma aliança nova com Deus, criando um coração renovado sem dobras e um povo em estado de justiça. É compromisso atual a partir do Reino, causa pregada por Jesus e pela qual morreu para a salvação de todos. É esperança de vida plena, de amor total, de verdade completa, baseados no triunfo de Cristo sobre os ‘ínferos’ da natureza humana, sobre as dores indevidas e devidas, sobre a acumulação de bens nas mãos de poucos e sobre os ídolos” (Cassiano Floristán, idem ibidem).