Artigo

Semana Santa: DOMINGO DA RESSURREIÇÃO

O Filho Unigênito é o vencedor da morte!

No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao túmulo de Jesus,
bem de madrugada, quando ainda estava escuro, e viu que a pedra
tinha sido retirada do túmulo de Jesus.
(João 20,1)

            Essa Maria Madalena tinha sido tocada pelo Cristo Jesus que encontrara em seus caminhos. Na manhã do primeiro dia da semana vai ao sepulcro onde jazia sua esperança chamada Jesus. Corre para avisar a Simão e ao discípulo que Jesus amava que acontecia algo de novo. Alguém havia tirado o corpo do Senhor. Os três, afirma João, ainda não tinham compreendido que, segundo as Escrituras, Ele devia ressuscitar dos mortos. Maria e os discípulos seriam visitados por graça especial para compreender que não deviam procurar entre os mortos àquele que estava na vida.

            Maria mais tarde haveria de ver. “Responde, pois, ó Maria, no caminho o que havia? Vi Cristo ressuscitado, o túmulo abandonado. Os anjos da cor do sol, dobrado ao chão o lençol… O Cristo que leva aos céus, caminha à frente dos seus!” (Sequência da Missa da Páscoa).

            Os cristãos partem da convicção de que seu Senhor é vivo, o Ressuscitado. Ao longo de toda a vida andamos em seu encalço.

            Aqueles dois discípulos, Cléofas e o outro, haviam experimentado um nó na garganta e um aperto no coração depois da morte de Jesus. No primeiro dia da semana davam as costas para Jerusalém… lá, na cidade santa, fora de seus muros, é claro, havia morrido Jesus. Com o semblante desfigurado dirigem-se a um povoado bem pequeno para guardar não se sabe onde as esperanças que o Rabino havia colocado em seus corações…

            Cléofas e o outro acham estranho que aquele Peregrino que havia se associado ao seu caminhar não tenha conhecimento do que se tinha passado. E o misterioso viandante lhes aquece o coração. Fala-lhes do Deus fiel, da descendência prometida a Abraão e à sua posteridade. Fala-lhes dos profetas que anunciaram os padecimentos e a glória do Servo. E com as palavras da Escritura o coração dos viajantes da desilusão vai se aquecendo. O Peregrino ameaça ir adiante… os discípulos não permitem. “Quando tu falavas pela estrada nosso coração ia se aquecendo. Tu não podes nos abandonar. Entra rapidamente em casa. Vamos continuar a conversar”. E quando o Peregrino se assentou, tomou o pão, deu graças, os olhos dos discípulos se arregalaram. Era o Senhor… e eles não tinham se dado conta porque seu coração ainda não acreditava nas promessas de Deus ou no Deus das promessas.

            Andamos todos atentos à presença do Ressuscitado. Ele vive, Ele está no meio de nós. É isto que nos torna pessoas profundamente alegres.

            O Cristo Ressuscitado está no meio de nós e nos chama a caminhar adiante. Onde podemos encontrá-lo?

  • Na fé viva dos cristãos que experimentam o coração a arder.
  • No serviço aos irmãos, sobretudo, aos últimos, aos que não contam e aos mais abandonados.
  • No momento em que dois ou três estiverem reunidos, efetivamente, em nome dele.
  • No anúncio límpido do Evangelho proclamado e ouvido como uma Boa Nova de Deus.
  • Nas palavras e nos gestos com os quais os cristãos confortam e ajudam os demais.
  • Na Eucaristia, mistério de comunhão, celebrado como memorial do amor maior que consiste em dar a vida.
  • Na reserva eucarística, Pão Sagrado que atrai os cristãos à oração e os leva à fraternidade.
  • Nos que amam, perdoam e buscam caminhos de justiça, de liberdade, de reconciliação e de amor. (cf. Josep Maria Rovira Belloso, teólogo espanhol)

 

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O sol de justiça

            O sol de justiça que tinha desparecido durante três dias, se levanta hoje e ilumina toda a criação: Cristo presente no sepulcro durante três dias e existindo antes dos séculos. Brotou como a videira e encheu de alegria toda a terra habitada. Volvamos nossos olhos para a luz que não conhece ocaso e deixemo-nos encher da alegria que procede de tal claridade. As portas dos infernos foram quebradas por Cristo, os mortos se levantam como d um sono. Cristo ressuscitou; Ele, ressurreição dos mortos, despertou Adão. Cristo ressuscitou, Ele, ressurreição de todos, e libertou Eva da maldição. Cristo ressuscitou, Ele é a ressurreição, e transfigurou em beleza o que era privado de beleza e esplendor. O Senhor despertou como de um sono e confundiu seus inimigos pisando-os aos pés. Cristo ressuscitou e deu alegria a toda a criação. Ressurgiu e foi esvaziada a mansão dos mortos. Ressuscitou e transformou o corruptível em incorruptível. Cristo ressuscitou e restabeleceu Adão em sua antiga dignidade de imortalidade.

            Renove-se com a ressurreição aquele que é nova criatura em Cristo (…). A Igreja que existe em Cristo torna-se hoje um novo céu, céu mais belo do que aquele que vemos. Não necessitamos da luz de um sol que se põe toda noite, porque temos como luz aquele Sol que o sol da terra temeu quando o vira suspenso na cruz. Desse Sol falou o profeta dizendo: “Para vós, que temeis o meu nome, brilhará o sol da justiça que traz a cura em seus raios” (Ml 3,20)

Epifânio de Chipre
Homilia sobre a ressurreição de Cristo
PG 43, 465 A-C