Enace 2018
Artigo

Editorial de Junho

“A aldeia é o espaço de reconstrução do ser que se escondia” (Itinerário – Tiago Gonçalves)

Junho é muito especial para nosso movimento de Emaús: no dia 24, celebramos nosso padroeiro João, o Batista. E todas as reflexões que serão partilhadas convergem nele. Unir-lhe-ão, com sua missão, à de nossos cantores e cantoras, profetas da esperança e responsáveis por manter a brasa que o Amor acendeu, ainda ardendo em nosso coração.

Esse mês, o “feitiço virou contra o feiticeiro”: sempre abro a nossa caminhada mensal com um tema meditando alguns mistérios que a nós envolvem enquanto sociedade, igreja, pessoa humana. Então, a equipe de comunicação fez da vida desta contemplação, um escancaramento da minha própria vida. Há quase dois anos, estivemos no X Enace, que reúne os cantores e cantoras espalhados por todos os secretariados do movimento. O pedido dos comunicadores foi que houvesse um “testemunho” das marcas que ele deixou em mim. Por isso, peço licença a você, querido leitor, para que façamos juntos a experiência evangélica de revirar o baú, e tirar coisas novas e velhas que nele são guardadas.

Quando escrevi Itinerário, queria contar para as pessoas o que minha alma acabara de encontrar: uma Terra Santa, que me salvou de mim mesmo e reconstruiu cada pedaço de um alguém estraçalhado, e que se escondia em desculpas estéreis para não ser quem realmente devia ser. Não tinha nenhuma outra pretensão além desta; o que me habitava era como Madalena: “Eu vi o Senhor!”. E Ele se revelou no cuidado, no abraço, no brilho do olhar de quem, antes de mim, já o tinha contemplado.

Depois de pronta, cantei a alguns irmãos que me responderam com lágrimas e com acolhida ainda maior. Cada passo desse itinerário levava a um lugar ainda mais aconchegante. Surgiu, então, a necessidade de termos alguma composição para nos representar nos festivais; primeiro, o Edice, em nome da escola de Tatuí e, depois, o Enace, por todo secretariado de Itapetininga. Quando chegamos na estalagem, em Jundiaí, onde seria o encontro, tudo era festa, celebração! Tinha cheiro, tinha gosto de Emaús! Logo na primeira noite, nossa comunidade ficou incumbida de conduzir a “oração antes de dormir”. Precisávamos refletir sobre quem? João Batista, o nosso santo. Propusemos a provocação de sermos, a todo instante, escravos da Beleza, como ele, não ousando sequer desamarrar as sandálias Daquele que é só encanto.

Quando se aproximava o momento em que daríamos a nossa canção a toda alma que ali estava, a preocupação nos invadiu. Havia outras aldeias que transbordavam talento, qualidade, a beleza que tanto perseguíamos. Debaixo de uma árvore que nos abraçava com sua sombra, decidimos por termos apenas um compromisso: Anunciar! Contar, de novo, o que Emaús fez em nós!

Naquela noite, nos sentamos diante de um público que, na sua grande maioria, tinha mais tempo de história dentro da aldeia que todos nós ali tínhamos de certidão de nascimento. Com ousada sinceridade, falamos! Eu posso me lembrar dos violões cantando comigo, de como nos olhávamos com respeito entre nós; recordo que meu corpo todo tremia, a voz embargava, porque as almas estavam se identificando com a nossa história! Foi um arrebatamento de delicadeza e poesia!

No último dia, o anúncio: Melhor letra e mensagem foi comunicada por Itapetininga! Você não esqueceu qual foi o acordo que fizemos antes de cantar, não é mesmo, caro amigo? Comunicar quem nos amou como ninguém! E que presente!… fomos reconhecidos por darmos a cada coração a boa notícia! Fomos arautos do Verbo que, a cada dia que amanhece, nos arde inteiramente! Depois que voltamos à nossa Jerusalém, nada mais foi como antes: temos, agora, algo que nos une, que nos faz um só ser! E toda vez que revisitamos esse momento, tudo em nós canta: A vida vale a pena!

Eu quero, caro irmão, antes de me devolver à rotina, expressar a minha gratidão a tantos que me mostram qual é o destino desta aventura: o Coração de Deus! De uma maneira especial, com todo respeito, e certo de que serei compreendido, quero louvar ao Senhor de toda Beleza pelos irmãos que dividiram o palco comigo naquela noite: a Bruna Araújo, dona de um doçura inigualável; o Paulo Rochel, cujos dedos são bailarinos na dança da canção; o Leôni Momberg, que me ensina a arte das raízes, e sustentou-nos, sendo a nossa harmonia; e a Celeste, voz de uma capacidade inigualável: a humanidade. Se ela não cantasse, perderíamos a razão de estar ali. Ah, e aos “escondidos”: obrigado pelo simples gesto de nos amar!

Que nós sejamos uma aldeia amiga da Beleza! E gritemos ao mundo: Viver é o melhor presente! Você aceita?

Tiago Gonçalves
Escola missionária – núcleo Tatuí
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