Artigo

Semana Santa: QUINTA-FEIRA SANTA – Sentados à mesa do serviço

“Quando a festa da Páscoa estava perto,
Jesus, sabendo que chegara a sua hora,
amou os seus até o fim.”
(Da liturgia da Quinta-feira Santa)

 

A. Missa do Crisma

Na Quinta-feira Santa, pela manhã, o bispo reúne os sacerdotes e o povo e celebra com eles a missa do crisma. Belíssima essa cerimônia no dia da instituição da Eucaristia. Nesta missa são abençoados os óleos para os sacramentos: óleo dos enfermos, dos catecúmenos e do crisma.

Belíssimo o quadro. O bispo, o pastor da diocese, aquele que conta com o ministério dos sacerdotes que estão à frente das comunidades. Sim, os sacerdotes são colaboradores do bispo em seu múnus. Muitos dos concelebrantes são párocos. Outros são colaboradores: animam a catequese, trabalham com os jovens, acompanham os doentes, tomam para si a causa dos mais abandonados. Na celebração da manhã da quinta-feira estão esses homens que, levando a sério sua vocação, são os continuadores da obra de Jesus, eles vão dando a vida pelos seus. Emocionante ver os padres bem idosos, caminhando com dificuldade, apoiados em bengalas ou levados pelos padres mais novos. Que beleza! A unidade e a riqueza do presbitério! Para além de todos os problemas que eles possam viver é belo vê-los reunidos da Missa do Crisma.

Aos sacerdotes é aplicada a Palavra de Isaías: “O Espírito do Senhor repousa sobre mim. Enviou-me para levar a boa nova aos pobres e curar os de coração despedaçado, anunciar a redenção aos cativos e a liberdade aos prisioneiros e a publicar um ano de graças…” (Is 61, 1-2).

Quinta-feira Santa é o dia do padre. É dia de agradecer a Deus os sacerdotes todos que passaram por nossas vidas, que nos marcaram profundamente.

Os que são sacerdotes conhecem tudo aquilo que vivenciam e vivenciaram: ministros de uma palavra de vida, animadores e estimuladores de uma comunidade de fé, esperança e caridade, pessoas que buscam as ovelhas perdidas e levam à santidade os que estão perto e por perto, homem da Eucaristia, daquele que, como Cristo, se faz dom para os seus.

Belas as palavras do Prefácio da Missa do Crisma: “Ele (o Filho Unigênito), na verdade, não só enriquece com um sacerdócio real o povo que conquistou, mas com bondade fraterna escolhe homens que, pela imposição das mãos, tomem parte em seu ministério sagrado. Em nome de Cristo, renovem eles para nós o sacrifício da redenção humana, servindo aos vossos filhos o Banquete da Páscoa. E, indo à frente do vosso povo na caridade, com vossa palavra o alimente e com os sacramentos o restaurem. E dando a vida por vós e pela salvação de seus irmãos, procurem assemelhar-se cada vez mais ao próprio Cristo, testemunhas constantes de fidelidade e de amor para convosco”.

B. Reunidos para a Santa Ceia

A missa da tardinha, missa vespertina da ceia do Senhor, é uma das mais densas e mais belas de todo o ano litúrgico. Ela comemora a primeira missa, a ceia-refeição – ao longo da qual Jesus instituiu a Eucaristia para que sua Presença se perpetuasse viva no sacramento de seu Corpo e de seu Sangue.

A refeição pascal judaica, familiar e festiva, era o memorial da libertação do Egito: comia-se ritualmente o cordeiro pascal, como na noite em que, outrora, Deus tinha livrado os hebreus das mãos do faraó. Jesus faz desta celebração, antecipadamente, memorial de sua paixão, morte e ressurreição. Páscoa nova em que a salvação é ofertada a todos. O cordeiro é ele mesmo. O banquete é a refeição anunciada pelos profetas, núpcias de Deus com seu povo.

Trata-se de um dia festivo. O templo está enfeitado. Os oficiantes vestem-se de paramentos brancos. Há o canto do glória. Soam os sinos. Há festa no ar.

Ceia do Senhor! Ceia parecida com nossas ceias e ceia tão diferente. O pão do trabalho, das penas, do suor! O vinho da dor e da alegria! Tudo isso simboliza o trabalho e o labor. Esse pão e esse vinho se tornam o Corpo e o Sangue do Senhor que celebramos carinhosa e respeitosamente. Os que participam desta ceia vivem com os irmãos as ceias de todos os dias. Os Padres da Igreja sempre afirmaram que respeitar a Eucaristia supõe que respeitemos o Cristo nos irmãos. Nada de alienação. O mesmo Cristo que comungamos no pão está no mais abandonado e pouco amado irmão.

“O Deus todo poderoso, que hoje nos renovastes
pela ceia do vosso Filho,
dai-nos ser eternamente saciados
na ceia do seu reino” (Oração depois da Comunhão)

Felizes os que podem celebrar cotidianamente a Eucaristia. Felizes os que conseguem fazê-lo sem se deixarem entorpecer pelo sono e pela repetição das mesmas coisas. Felizes aqueles que vivem a Eucaristia como sacramento de uma vida de dom, de uma vida para os irmãos.

Quinta-feira é dia da caridade e do serviço. O lava-pés conservado apenas por João não deveria ser omitido neste dia. Trata-se de um dos gestos mais fortes que revelam Jesus. Somos convidados à alegria e à partilha. Isto se dará na medida em que formos pessoas de serviço: serviço em casa, serviço no trabalho, serviço aos vizinhos, serviço aos prisioneiros e doentes, serviço prestado às grandes necessidades da comunidade de fé à qual pertencemos. O Senhor e Mestre, antes da Ceia, tira o manto e lava os pés dos seus… esse serviço incondicional é anúncio da cruz.

Depondo as vestes Jesus despoja-se de si. Depõe sua vida para os seus e inclinando-se diante dos seus mostra até onde vai o amor de Deus. Lavar os pés é gesto que os escravos realizam e aqui é o Senhor que o realiza. Quando Jesus pede que os seus façam sua memória tomando o pão e o vinho pede também que tornemos sua figura presente no serviço feito a partir do exemplo que dava. Um autor afirma: “Os gestos que Jesus realiza ao lavar os pés dos seus discípulos são humanos, humaníssimos e indicam no dia-a-dia o lugar em que a Eucaristia se torna vida, existência, realidade. Do contrário é apenas um rito. Lavando os pés dos seus Jesus continua realizando o que sempre fez: amou os seus até o fim… no meio desta ceia, neste lava-pés, o Mestre tinha o coração apertado… ele ficaria só, numa terrível solidão”.

Terminada a celebração da missa vespertina, há uma procissão com o Santíssimo até a capela da reposição. Depois os celebrantes desnudam os altares. Tudo parece desolação. O Esposo foi arrancado dos seus. O sacrário está escancarado. Vazio. A vigília diante do Santíssimo lembra a oração de Jesus em Getsêmani. Os fieis cristãos desejam estar com seu Senhor, sem dormir, como aconteceu com os apóstolos, cheios de sono. Esta é a noite da entrega e da desolação. Tudo isso acontece logo depois dos esplendores da quinta-feira da Ceia do Senhor.

Tão sublime sacramento
adoremos neste altar,
pois o Antigo Testamento
deu ao Novo o seu lugar.
Venha a fé por suplemento
os sentidos completar.

 Os fieis são convidados a adorarem o Santíssimo Sacramento durante algum tempo da noite, segundo as circunstâncias do lugar.