Semana Santa: VIGÍLIA PASCAL: A noite que mais parecia um dia
Só tu, noite feliz, soubeste a hora
em que Cristo da morte ressurgia;
e é por isso que de ti foi escrito:
A noite será luz para o meu dia!
(Cântico do Exultet)
*Na reflexão sobre a Vigília seguimos de perto a descrição cheia de brilho feita por André Gouzes e Cristophe Chaland, em Panorama, Mensuel Chrétien de Spiritualité, abril de 2004.
A celebração da Ressurreição de Cristo começa durante a noite por uma grande festa da luz. Os fieis se reúnem na parte exterior do templo, na escuridão. Nos lugares onde há batismos, os catecúmenos estão aí, junto dos outros fieis. Eles vão ser “iniciados”, “iluminados”, integrados à comunhão ao receberem os sacramentos, o primeiro deles o Batismo.
Acende-se uma fogueira. Primitivamente o fogo era aceso com uma faísca obtida da fricção entre duas pedras. A chama brota da pedra do túmulo. O fogo é grande, quase devorador, iluminando a noite. Ele é o símbolo da vida nova que a morte não pode apagar.
Perto está um grande círio, marcado com os sinais de Cristo: a cruz, as letras alfa e ômega. No Apocalipse, sobre Cristo lemos: “Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim”. E aos poucos todo o templo é iluminado com dezenas de velas acesas… Noite de luz. A noite será mais clara que o dia!
São João Crisóstomo: “Vós que buscais a Deus e que amais o Senhor vinde degustar a beleza e a luz desta festa. Ricos e pobres, vivei na mesma alegria. Fostes diligentes ou preguiçosos? Celebrai este Dia! Vós que jejuastes e vós que não jejuastes, hoje alegrai-vos. A mesa do banquete de festa está posta: degustai todos, sem reticência alguma!”
O canto do Exultet enche o templo. Que dos céus desçam os anjos triunfantes, que soem as trombetas. Alegre-se a terra, alegre-se a mãe Igreja. Que Deus escute o Aleluia cantado por todo o povo. A liturgia da Palavra desenvolve os principais temas da Páscoa. Ela é recriação, libertação, soerguimento dentre os mortos. O conjunto de leituras, cantos e responsórios constituem uma verdadeira catequese da fé pascal. Durante um bom espaço de tempo, sem pressa, são proclamadas as maravilhas que o Senhor foi operando na história: criação, vocação de Abraão, travessia do Mar Vermelho, o Deus esposo de Isaías, caminhada para o esplendor do Senhor na pena de Baruc, o tema das águas puras e do coração novo de Isaías, e assim se chega ao portal do Novo Testamento. Uma vigília que já é festa…
Momento solene é aquele da proclamação do Evangelho. No primeiro dia da semana, bem de madrugada as mulheres foram ao túmulo levando os perfumes que haviam preparado. E a pedra do túmulo estava removida… e as mulheres anunciaram aos apóstolos o que havia acontecido. Eram Maria Madalena, Joana e Maria, mãe de Tiago. Também as outras mulheres que estavam com elas contaram estas coisas aos apóstolos…
A terceira parte da vigília é a liturgia batismal, tão consentânea com a festa. Na Igreja antiga era na grande noite da Páscoa que se processava a iniciação nos mistérios cristãos: batismo, a crismação pelo bispo – nossa confirmação – e acesso à mesa eucarística. Em nossos dias, mesmo quando não há batismo, há a bênção da água e aspersão.
No final de tudo a Liturgia Eucarística da noite da páscoa!