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Catequese: Mais que cantores. Profetas!

Esse texto faz parte da nossa série de artigos catequéticos que serão publicados todas às quartas do mês de Junho sobre João Batista e a música no movimento de Emaús.

“Uma voz grita no deserto: Preparai o caminho para o Senhor” (Mc 1,3)

Em dezembro de 1975, na sua maravilhosa exortação apostólica Evangelii Nuntiandi, o Papa Paulo VI trazia diretrizes para uma nova evangelização, tendo por base o Concílio Vaticano II. Algumas das ideias ali expostas podem ser assim resumidas:

– não haverá nunca evangelização verdadeira se o nome, a doutrina, a vida, as promessas, o reino, o mistério de Jesus de Nazaré, Filho de Deus, não forem anunciados (22);

– a evangelização não pode deixar de comportar o anúncio profético do além, vocação profunda e definitiva do homem (28);

– a Igreja tem o dever de anunciar a libertação de milhões de seres humanos, sendo muitos destes seus filhos espirituais (30);

– essa libertação exclui a violência (37), mas comporta necessariamente uma conversão (36);

– é necessário que os jovens, bem formados na fé e na oração, se tornem cada vez mais os apóstolos da juventude (72);

– uma verdade que torna livres é a única coisa que dá a paz do coração (78);

Em 1977, realizou-se em Porto Alegre o III Seminário Nacional de Emaús, dentro do qual ocorreu o primeiro Encontro Nacional de Cantores. A comunidade de São Paulo foi então incumbida de preparar uma das orações da manhã e o tema seria o nosso patrono, São João Batista. Como parte dessa oração, compus uma música do cancioneiro de Emaús, FAZ COMO JOÃO, num ritmo de rancheira para homenagear, ao mesmo tempo, os nossos hospedeiros gaúchos. Costumo dizer, brincando, que essa composição é uma parceria minha (música) com Paulo VI (letra). Os temas que enunciei acima (leia-os novamente, vale a pena) estão resumidos em três estrofes separadas pelo refrão “Faz como João; teu irmão precisa de paz”.

Ora, João é o último profeta; é ele quem faz a transição do Antigo para o Novo Testamento, anunciando o Cristo que vem. Depois dele já vem Jesus, para realizar tudo quanto disseram todos os profetas. Em Emaús somos João Batista, anunciando o Cristo que vem àqueles que ainda não o têm, ao menos em plenitude, para que, ao final de cada curso, saiam, como nós, Evangelizadores, anunciando o Cristo que já veio, o Cristo libertador, o Cristo Caminho, Vida e Verdade libertadora. Aqui estamos para ser e formar apóstolos da juventude.

E onde entram os cantores em tudo isso? É o próprio Papa Paulo VI quem responde em sua magnífica Exortação:

– ministérios novos na aparência mas muito ligados a experiências vividas pela Igreja ao longo da sua existência, por exemplo, os de catequistas, de animadores da oração e do canto (…), são preciosos para a implantação, para a vida e para o crescimento da Igreja e para a sua capacidade de irradiar a própria mensagem à sua volta e para aqueles que estão distantes (73).

Mais que cantores, portanto, somos profetas. Profetas como João Batista, “uma voz que grita no deserto”.

E vejam: costumamos dizer que a palestra mais longa do Emaús é a dos cantores; ela começa na manhã do primeiro dia e só termina quando se encerra o curso no terceiro dia. E minha longa vivência nesta Aldeia me permite afirmar: essa palestra é a responsável por um significativo número de conversões que se operam em nossos cursos e até depois deles. A música de Emaús é um dos nossos grandes patrimônios e um de nossos grandes instrumentos de evangelização.

Com nossas notas maravilhosamente melódicas, com nossos acordes tão harmoniosos, com nossas letras trazidas de dentro dos nossos corações, com nossa voz apaixonada por Deus, cabe-nos anunciar: “Completou-se o tempo, o reino de Deus já está aqui; convertei-vos e crede no Evangelho”.

Amém.

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Toninho Scorci

Membro do Secretariado Arquidiocesano de São Paulo desde 1971

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