Artigo

Catequese: Maria Serva e o Movimento de Emaús

Esse texto faz parte da nossa série de artigos catequéticos que serão publicados todas às quartas do mês de Maio sobre Maria.

O Concílio Vaticano II ocorrido entre 1962 e 1965 trouxe inéditas exigências para o serviço evangelizador da Igreja. Frente aos crescentes desafios do mundo moderno, realizou uma sincera autocrítica, reconhecendo a necessidade de compreender as rápidas mudanças da realidade, desencadeadas pela renascença e pela revolução industrial.

Entre os documentos concilares provocadores da mudança no estilo de evangelizar, destaca-se à nossa reflexão a Gaudium Et Spes (As alegrias e as Esperanças), pois esta Constituição Pastoral, em linhas gerais, incentivou a Igreja ao contínuo diálogo e aproximação junto do homem moderno, a fim de lhe tornar a pessoa de Jesus Cristo mais significativa e relevante.

Nesse contexto, o Espírito Santo de Deus, protagonista da evangelização, suscitou dentro da hierarquia eclesial católica homens e mulheres com iniciativas específicas para tentar inovar os trabalhos de apostolado da Igreja, entre eles o: “Curso de Valores Humanos e Cristãos a Jovens”, denominado: “Movimento de Emaús”.

Monsenhor Benedito Mário Calazans foi padre, professor, político brasileiro, idealizador e fundador do novo movimento de evangelização juvenil, para o qual contou com tantos outros colaboradores, entre religiosos e leigos, que partilhavam do mesmo desejo de transformação.

Considerando todos os componentes que poderiam ser mencionados sobre o referido movimento, destaca-se a escolha do título de Nossa Senhora Serva, como padroeira e intercessora do inédito serviço de anúncio do evangelho aos jovens.

Não há dúvida de que a juventude precisava de referências capazes de conduzi-los a questionamentos, mudanças de perspectivas e aproximação do Transcendente (Deus), afinal, o mundo estava cada vez mais técnico, materialista e cientificista.

Nada mais pertinente do que sondar as Sagradas Escrituras no intuito de se encontrar nelas homens e mulheres verdadeiramente comprometidos com Deus, com a fé e um sentido existencial que estivesse além das coisas terrenas e concretas.

Nada de novo até aqui pra quem era cristão; mas, e quem não era? Ou foi apenas iniciado à vida cristã e prosseguiu desconhecendo quem era Jesus Cristo e seu evangelho? Pois bem, anunciar aos batizados parecia redundância, mas se fazia necessário, e escolher um título de Nossa Senhora à altura do desafio era crucial.

Nossa Senhora, Serva! O que intuiu monsenhor Calazans? A beleza da mais bela entre as criaturas! Maria olhava pro céu enquanto o mundo olhava pra terra; Maria só ouviu a Deus, enquanto o mundo só ouvia a ciência; Maria renunciou a si, enquanto o mundo colocou o homem no centro de si.

Poderia haver título mais apropriado para aquele momento histórico da modernidade? Provavelmente, não! Mesmo a Igreja estava redescobrindo esses valores humanos quando decidiu, por meio do Concílio, voltar às fontes; o que significou rever a Revelação Divina em Cristo Jesus e seus cooperadores.

E que cooperadora!… Não coagida, nem pressionada, mas plenamente livre, Maria aderiu aos desígnios de Deus respondendo: “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra”. Decisão dessa natureza significava: crer, confiar e aguardar o que estaria por vir.

Seu “sim” obediente e servil rendeu-lhe experiências inimagináveis: ser tocada pela sombra do Altíssimo e gerar o Filho de Deus em seu ventre; ser desposada por José e não repudiada, como prescrito pela lei; acompanhar a infância e a vida pública do Mestre, Cristo Jesus; sentir uma espada de dor transpassar a alma e testemunhar, alegre, o Ressuscitado.

Recorde-se ainda que, com a Igreja, contemplou a Ascensão do Senhor e orou pela descida do Espírito Santo, até o dia de ser Assunta aos céus, para ser coroada como rainha. E ela continua a servir, pois um dia intercedeu nas bodas de Caná, para que na festa não faltasse o vinho da alegria, e hoje, diante de Deus, roga por toda a humanidade necessitada de direção, e aponta-nos o caminho da verdadeira felicidade, que será sempre este: “Fazer tudo que seu Filho Jesus Cristo disser”. Cada um de nós sejamos – a exemplo dela – serviçais no reino de Deus, nosso Pai.

Digamos com Maria sempre: “Eis aqui os servos do Senhor”!

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Padre Ricardo de Oliveira

Diretor Espiritual do Secretariado Regional Sudeste I

Referências:
Bíblia Sagrada
Lumen Gentium
Gaudium et Spes
Igreja Contemporânea – Encontro com a modernidade