Artigo

Editorial de Março

“Depois de tanto caminhar, depois de quase desistir, os mesmos pés cansados voltam pra você…”

Sou afeito aos contrários. Vejo sentido neles. Gosto de crer que Deus se revela nos avessos, no que não é óbvio. Neste tempo, não seria diferente.

Há os compulsivos pela austeridade, que beira a compensação. Havendo uma tarde e uma manhã, são os mais fervorosos devotos que esse chão já contemplou. Os propósitos são tão imensos quanto inexoráveis, não existe vento capaz de sequer fazê-los balançar.

Inúmeras vezes, se tornam o contraponto do Verbo, que conduz ao silêncio da reconstrução. Sim, essa é uma oportunidade de respiro para a alma sedenta. É quando ela se senta à sombra da misericórdia, estica as pernas, massageia os pés cansados, e suspira, longa e profundamente, recobrando o vigor. É o período em que ela se converte, muda a direção, o rumo, a forma de caminhar. Refaz o pensamento, numa plena intimidade com a franqueza. Purifica o olhar, deixando restar o que é essencial.

Não me oponho, querido amigo, ao que aquela que é maior que eu, orienta. Mas proponho que o externo conduza à fecundidade do que dentro habita, e se torne reflexo. Sugiro que o coração fuja do gesto pelo gesto, do crer pelo crer, do ser pelo ser. Que haja uma digna razão. Uma reta intenção. Sinceridade. E desse esforço, percam-se os costumes.

É a chance de não se acostumar com o erro. Com a exaustão. Com a dor dos calos. Com a mediocridade. Na inquietação, que invade o cotidiano além deserto, se esconde a novidade do Evangelho, a raiz, o radical, a fôrma. Esses quarenta dias sejam diferentes: façam voltar à honestidade do ser e à inteireza do Amor.

Eu desejo ser mais humano e, sendo quem sou, ser melhor, em retribuição à Ternura, em favor dos que ainda não tem forças para voltar. E você?

Santa quaresma,
A redação.