Artigo

Catequese: Uma Nova Maneira de Comunicar

“A partir do coração do Evangelho: uma nova maneira de comunicar”

Esse texto faz parte da nossa série de artigos catequéticos que serão publicados todas às quartas do mês de Julho sobre a Exortação Apostólica Evangelii Gaudium.

Pare um instante e me diga: qual é o órgão vital mais importante do corpo humano? Com certeza você deve ter pensado no cérebro ou no coração, não é mesmo?

Vamos fazer um paralelo com o corpo místico de Cristo que somos nós, Igreja (1 Cor 12, 27). Considerando que a cabeça é o próprio Cristo, a parte mais importante, então, de nós, corpo místico, é o coração. E o que tem no coração da Igreja? A mensagem central do Evangelho: o amor. Dessa forma, a mensagem principal que deve ser anunciada é justamente essa, o amor.

Atualmente, não é difícil notar que as mensagens chegam até nós um tanto quanto distorcidas. Quem nunca ficou impressionado com uma manchete, sobretudo sobre o Papa e, ao ler todo o conteúdo, percebeu que o que lhe atraiu na manchete era secundário, ou até mesmo uma distorção? Não podemos deixar que isso aconteça com o Evangelho ou com as verdades da fé católica.

Muitas pessoas não gostam nem de ouvir falar da Igreja Católica, pois associam a Igreja a um conjunto de normas, doutrinas, proibições e ideologias. Para essas pessoas, nunca foi apresentada a centralidade da mensagem: o amor; e, assim, enxergam na pregação moral cristã uma filosofia prático-ideológica.

Podemos pensar: mas todos já ouviram falar de Jesus Cristo! O que falta hoje em dia é disciplina, regras. Pense em sua própria conversão. Quantas vezes você ouviu falar de Jesus Cristo, talvez, inclusive, nas missas, mas ainda não o havia reconhecido como manifestação do amor de Deus por você, por nós?

Assim como todos os órgãos do corpo são importantes e têm, cada um, sua função específica, as verdades, virtudes e valores da fé católica também têm. Não podemos esperar que outro compreenda nem sequer os dez mandamentos, se a ele não foi apresentado ainda o amor, isso porque, sem o amor, as questões que fazem parte da doutrina moral da Igreja, ficam descontextualizadas e, portanto, sem sentido real. Afinal, qual é a função do pé sem o corpo?

É urgente lembramos daquilo que dá sentido a tudo o que professamos, vivemos e buscamos: “a beleza do amor salvífico de Deus, manifestado em Jesus Cristo morto e ressuscitado”. (Evangelii Gaudium n.36). E é por essa verdade que devemos começar a anunciar e concentrar o nosso anúncio.

Isso não significa que todas as outras questões doutrinárias sejam falsas, sem importância ou que o nosso anúncio ficará superficial, mas sim, que estará centralizado no que é essencial, mais importante e também mais necessário.

No texto da semana passada – A doce e reconfortante alegria de evangelizar – o seminarista Lucas Alves nos lembrou que: “O anúncio da Boa Nova deve ser feito com a força do Espírito Santo, mas também é baseado no testemunho pessoal”. O nosso testemunho pessoal deve ser simples, direto e convincente, manifestando “uma resposta a Deus que nos ama e salva, reconhecendo-O nos outros e saindo de nós mesmos para procurar o bem de todos”. (Evangelii Gaudium n.39).

Todas as virtudes estão a serviço dessa verdade, o essencial é, antes de mais nada, “a fé que atua pelo amor” (Gl 5, 6). As obras de amor ao próximo, sobretudo a misericórdia, que busca remediar as misérias e garante mais de perto o bem do próximo é a manifestação mais plena e perfeita da graça de Deus agindo em nós: “O elemento principal da Nova Lei é a graça do Espírito Santo, que se manifesta através da fé que opera pelo amor.” (Suma teológica II q.108, a.1).

De nada adianta seguirmos à risca a lei moral se ela não estiver fundamentada nesse elemento central. O fato é que a maneira mais efetiva de comunicar o coração do evangelho é viver como nos ensinou o Cristo: amando, servindo e se doando ao próximo, fazendo chegar, à todas as razões e corações, o Amor.

Não sejamos, então, como que inquisidores da lei moral, mas sim como evangelhos vivos, que transparecem e transbordam o Amor. Que saibamos reconhecer e servir a Cristo, não apenas no partir do pão eucarístico, mas também em todos os irmãos que, juntamente conosco, são o corpo de Cristo.

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Ana Carolina Rocha

Integrante do Secretariado Arquidiocesano de São Paulo

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